terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Abaixo a educação!

Por Oswaldo Gonçalves Jr*

Na era do reality show, vale tudo pra aparecer. Para os bem sucedidos, um convite pra posar na Playboy ou na GMagazine e no bolso um milhão. Por mais estranho que isso possa parecer, o anseio por aparecer a qualquer custo não está mais restrito ao mundo das futilidades, mas também na imprensa, setor o qual supostamente o conteúdo importa.
Nessa toada, alguns articulistas não têm medido esforços. Em seus artigos escolhem com maestria conexões com recônditos da mentalidade humana, impulsionados por um certo clima de mesmice que paira no cenário nesses tempos de estabilidade nacional. Colocando-se como visionários, dão nova roupagem a dilemas que ainda habitam mentes refratárias que não superaram certos paradigmas, mesmo após o fim da Guerra Fria.
São exemplos de profissionais exímios que circulam pela nossa nada concentrada e democrática mídia de altíssimo nível. São hábeis na arte de confeccionarem artigos escancaradamente tendenciosos e burlescos, que uma rápida aula de filosofia chamaria a atenção para a inexistência de premissas como a dialética e o espírito crítico mais básico.
Falando em aula, Gustavo Ioschpe tem se dedicado a escrever sobre o tema educação nos seus últimos artigos na Revista Veja, vociferando seu ódio contra os professores – segundo ele uma abordagem bastante inovadora – já que estes seriam os grandes responsáveis (culpados), e não vítimas partícipes de uma situação maior, verdadeira tragédia nacional, como todos nós, medíocres, vimos inocentemente acreditando. Fomos e somos apenas manipulados pelo espírito corporativista e pelos sindicatos, assim como a população alemã o fora pelos nazistas e os cubanos o são por Fidel, como nos alerta.
De forma leviana, acusa nas entrelinhas e, se dizendo apenas querer “gerar dúvidas” para que sejam revistas “visões sedimentadas”, subliminarmente sua narrativa conduz o leitor à conclusão que o grande problema da educação é um ato de (má) vontade e, porque não, da personalidade intrinsecamente vil dos professores, sujeitos os quais o auto-interesse se coloca acima dos da nação. Manipula estatísticas, fazendo uso da “matemagia” e explicita seu conhecimento enviesado sobre o tema através de generalizações absurdas e construções inconsistentes.
No entanto, o articulista parece estar bastante estimulado, tamanha a indignação que tem causado, gerando um elevado número de comentários de leitores e internautas (tem conseguido a concordância de alguns também, é bom que se diga...). Ou seja, está chamando a atenção e não me surpreenderia se logo, logo, o articulista aparecesse na capa da GMagazine.
Provavelmente não entendo tão bem a educação nacional quanto Ioschpe. Talvez por isso meu lema atual seja “abaixo a educação!”. Para o bem dos pobres e da nação, torço para que ela saia de moda o quanto antes para que “especialistas em educação”, como se intitula o referido articulista, vão procurar outro tema para entreter as mentes órfãs de Paulo Francis desse país. Disse Montaigne que “os que tentam corrigir os males da nossa época com idéias que estão na moda, só porque estão na moda, corrigem a aparência viciada das coisas, mas não o fundo delas, que piora sempre”. Então, quando todo esse modismo passar, continuarão os mesmos professores “ruins” de sempre, por 30 ou 40 anos lecionando, vendo entrar e sair de cena especialistas, tecnocratas e toda ordem de profissionais titulados que observam a vida pela janela do “planeta do ar-condicionado”.
Em tempo, não se trata de fazer uma defesa ingênua de categorias profissionais como a dos professores. Freqüentei suficientemente “salas de professores” e posso fazer uma lista que superará em muito os argumentos de Ioschpe. Apesar disso, não me privo do direito de esperar que sobre temas tão relevantes se estabeleça um debate digno de ser chamado de “inteligente”.


* Oswaldo Gonçalves Jr., Doutorando em Administração Pública e Governo pela FGV-SP. Ex-professor, hoje leva uma vida luxuosa numa praia paradisíaca do Caribe cercado de belas mulheres e drinks alucinantes. E-mail: osgoju@yahoo.com.br

5 comentários:

Anônimo disse...

Espero que este manifesto faça com que as pessoas passem a refletir sobre os interesses da revista Veja e seus pseudo-especialistas que escrevem sobre tudo e tudos. Precisa-se realmente abrir o debate sobre a educação, mas não como a revista Veja quer, colocando, antes de mais nada, os professores como responsáveis pelos problemas existentes.
Raul Aragão Martins
Professor de Psicolgia
UNESP - Campus de São José do Rio Preto

Anônimo disse...

Muito bom o artigo “Abaixo a educação!”. A ausência de uma cobertura digna por parte da imprensa de um tema tão importante como a educação abre espaço para abordagens marcadas por oportunismos.
Carlos Alberto – Educador - Maceió.

Ricardo Martins disse...

Oswaldo, um duplo parabéns pelo artigo. Primeiro pela análise inteligente que se associa à escrita fluida e bem estruturada. Outro, pelo estomago forte e disposição para ler aquilo que estes asquerosos "escrevedores" da Veja tem de tão importante para dizer. Importantíssima tarefa, a de observador da ratazana. Pena, nenhum sindicato de professores do país estar atento a isso para solicitar esclarecimentos do novo modelo da Gmagazine.

Ricardo, marido da Ana Maria

Anônimo disse...

Oi Professor... Otimas colocações a cerca do artigo da revista Veja. Estava com saudades de ouvir colocações inteligentes e bem estruturadas, ja que o "especialista" parece escrever por pirraça algumas coisas, já que tem provocado muita gente.
ABRAÇO.

Leila disse...

parabéns...coeso, plausível e cortês