segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

O lado bom da Desigualdade Econômica: será o diabo tão feio quanto se pinta? (Parte 2)

Por Sergio Luiz de Moraes Pinto*(Para ver a primeira parte clique aqui)

No artigo anterior comecei a debater se a desigualdade na distribuição de renda é tão ruim quanto se imagina, apresentando o caso de um país que na luta pela igualdade criou uma economia ineficiente, com baixíssima produtividade do trabalhador. Como alguém poderia argumentar que este país era originalmente pobre, vou então discutir a igualdade de renda em um país rico.

Neste país os trabalhadores de alta renda são fortemente tributados, e o Estado, realmente compromissado com a igualdade, distribui esta renda sob a forma de serviços, como educação, saúde, programas de complementação de renda, seguro desemprego e tudo mais que um welfare state exemplar deve fazer. Os muito ricos podem chegar a ser tributados em 95% de suas rendas (Clique aqui e conheça o caso de uma escritora cuja alíquota de imposto certo ano chegou a 102% !!!). O valor arrecadado desta camada muito rica é distribuído socialmente, por exemplo, entre desempregados, inclusive para os que não conseguem se adaptar a exercer qualquer tipo de trabalho, e preferem ficar surfando na Espanha. Logicamente nem todas as formigas querem sustentar cigarras, e acabam imigrando para paises menos vorazes.
Mas, neste nosso processo de pensarmos sociedades com diferentes comportamentos em relação à desigualdade, não podemos nos furtar de imaginar um terceiro país.
Este novo país, tropical e abençoado por Deus, tem uma renda per capita média-alta, mas fortemente concentrada nos 5% mais ricos de sua população. O Estado, voraz fiscalmente, tributa igualmente o pobre e o rico, e tem um esquema pífio de distribuição. Os serviços públicos são de má qualidade, especialmente a educação, saúde e segurança. Os filhos dos mais ricos freqüentam escolas particulares, de melhor qualidade, e são aprovados em universidades públicas, de muito bom nível, às quais os pobres quase não têm acesso. Isto exacerba a desigualdade, e ajuda sua transmissão entre gerações. A alta concentração de renda prejudica o crescimento econômico do país, e dificulta a redução da pobreza. O esgarçamento do tecido social diminui a coesão da sociedade e aumenta a exclusão e a criminalidade. Além de tudo, gera-se um incalculável custo de oportunidade devido ao não aproveitamento do potencial de trabalho de milhões de jovens que constituem a grande massa de desempregados.
Portanto, é o diabo tão feio quanto se pinta?
Muitos autores, principalmente dentro da linha do liberalismo econômico, entre os quais eu destacaria o prêmio Nobel de economia de 1974, Friedrich Hayek, acham que não. Uma sociedade que busque a igualdade a qualquer custo tira o incentivo do cidadão lutar para progredir, podendo prejudicar sua eficiência econômica.
Então, como ficamos?
A desigualdade é para a sociedade como a ambição e a vaidade são para os indivíduos. Uma pessoa extremamente ambiciosa não mede esforços para atingir seus objetivos, prejudicando os que estão ao seu redor e a si mesma. Outra, sem nenhuma ambição, pode ficar o dia todo vendo tevê, só esperando seu Bolsa Família no final do mês. Aquele sem vaidade pode descuidar até de sua higiene pessoal, enquanto o vaidoso demais se torna um narciso.
Uma sociedade sem desigualdade mata o incentivo de trabalhar, enquanto outra, muito desigual, prejudica o desenvolvimento econômico e social do país.Assim, o diabo é tão feio quanto ele o é, nem mais, nem menos. Se adotarmos políticas econômicas equivocadas no afã de resolver a questão da desigualdade, podemos prejudicar a eficiência econômica do país sem resolver a questão social.

O autor é Doutor em Administração Pública e Governo, na área de Finanças Públicas, pela FGV, Mestre em Administração pela FEA-USP, não tem Rolex e nem troca a cachacinha de Januária pelo champanhe Francês.

2 comentários:

Anônimo disse...

Parabéns pelo artigo Dr. Sergio. É sempre bom se analisar problemas sociais por vários ângulos e o Sr. o fez muitíssimo bem, só que parece que não temos solução para a "Ilha" e nem para o "Abençoado por Deus".

Anônimo disse...

Sérgio, seu artigo é interessante, mas tenho uma perguta pra você:

Será que não é possível conviver com pequenas diferenças salariais ou precisamos ter disparidades?