sexta-feira, 31 de julho de 2009

Existe alguma crise com as escolas e os jovens?

Por Patricia Mendonça (Doutora em Administração Pública e Governo pela FGV-EAESP e professora do Centro Universitário FEI.)


No último dia 22 de Julho praticamente todos os meios de comunicação brasileiros noticiaram a divulgação do estudo sobre a mortalidade dos jovens brasileiros, realizado pelo Laboratório de Análise da Violência da UERJ, Observatório das Favelas, Secretaria de Direitos Humanos de Presidência e pelo UNICEF.

O levantamento foi feito em 267 municípios com mais de 100 mil habitantes. O quadro é assustador. No Brasil 46% das mortes dos adolescentes são por homicídio! Outros 25% são por causa naturais, e 23% por acidentes. Foi calculado o IHA, Índice de Homicídios na Adolescência, e o valor médio do IHA para os 267 municípios pesquisados é de 2,03 adolescentes mortos por homicídio antes de completar os 19 anos.

No ranking da violência da população jovem, destacam-se Foz do Iguaçu, na liderança, seguida de Governador Valadares e Cariacica. Entre as capitais, Maceió e Recife aparecem nos primeiros lugares.

Sem perspectivas na maior parte dos centros urbanos, a criminalidade acaba sendo um caminho quase natural de muitos jovens.

Isto nos leva evidentemente a nos indagar coisas do tipo: Por quê não investimos mais em educação? Por que não damos mais oportunidades a estes jovens?

Bem, tenho convivido com jovens nas salas de aula onde leciono. Talvez não seja uma amostra muito significativa, já que as instituições de ensino superior em que trabalho servem a jovens de classe média e média alta.

Mas, também acompanho de perto relatos de amigos que convivem com jovens em situação de exclusão, na qualidade de educadores, como minha mãe, que é professora de uma escola pública em Salvador, ou outras amigas, que são monitoras de projetos culturais ligados á profissionalização e complementação educativa, em ONGs, em São Paulo.

Olhando mais de perto, talvez possam existir algumas similaridades.... Há uma grande inquietação entre os adolescentes na sala de aula.

Eu, que nem sou tão velhinha assim, fico pensando aqui com meus botões, como eles conseguem assistir aula, falar ao celular e ouvir os ipods ao mesmo tempo? Uma pergunta similar que minha mãe se faz na sua escola estadual lá em Salvador.

Perpassa o comportamento desses jovens, além da inquietação, uma agressividade e desilusão com a realidade que os cerca e com o seu futuro. Vejo isto quase todos os dias na faculdade que ensino. E também ouço das amigas que trabalham nas ONGs. Um filme que permite captar esta agressividade e falta de perspectiva é o documentário Pixo, sobre os jovens pixadores de São Paulo.

Além de me indignar com o fato de não receber a atenção que achava que deveria merecer como professora na sala de aula, fico também indignada com o fato de que, no relatório publicado pelo UNICEF e companhia, há a estonteante informação de que em cada 1000 brasileiros, 2 vão morrer assassinados antes de completar 19 anos!

E mais ainda, este estudo apareceu e sumiu na mídia com a mesma velocidade, sem que a opinião pública pudesse dar o devido espaço para a sua reflexão. O espaço era todo de Sarney, políticos corruptos e companhia.

Por fim, coloco aqui, então, minhas reflexões e indagações.

Algo parece estar fora do lugar com as instituições educacionais! Será que o mundo mudou e a escola não? O Marcelo Tass (do grande CQC!) observou que basta chegar na periferia e ver que as lan houses se multiplicam e que os jovens todos andam com pen drive pendurado no pescoço, virou sinônimo de status! Certamente passam quase o mesmo tempo, ou mais, na lan house, que na escola. Não deixam de atualizar seu Orkut nem um dia sequer! Marcelo Tass, queria acrescentar que também vi este fenômeno numa cidade de 20 mil habitantes no interior da Bahia.

E pensamos tanto em melhorar a educação e garantir o futuro de nossas crianças. Ocorre que depois elas crescem, tornam-se adolescentes, passam a desgostar ainda mais da escola e amar ainda mais o computador. Será que temos dado a devida atenção a eles? Quais são as políticas voltadas para a juventude que temos hoje?

Não sei se é por causa do computador, mas estes jovens parecem estar se aproximando das políticas de comunicação, como mostra a matéria ‘Juventude debate propostas para Conferência Nacional de Comunicação.

Alô alô governantes e educadores, será que este seria um dos caminhos?

sexta-feira, 24 de julho de 2009

O vendedor ambulante e o garrafeiro: crises diferentes?

Recentemente tivemos a oportunidade de visitar um pequeno município no litoral brasileiro, na região Norte, com lindas praias e com uma população estimada em 37.000 habitantes (IBGE, 2007). Em períodos de férias, como o mês de julho, por exemplo, sua população sazonal chega a aproximadamente 50.000 habitantes, ou seja, uma verdadeira turbulência econômica local por temporada.

A população local parece habituada com isso e para parte significativa dela tal acontecimento é motivo de comemoração, porque há um real incremento na

renda familiar de muitos, tanto por meio das atividades do mercado formal, quanto do informal, como lembra dona Vânia, moradora do bairro do Barreiro: “Esses meses de feriado já ajudou muito a gente. Ajudou a levantar minha casa, graças a Deus”. Porém isso não é uma característica somente de Salinópolis (PA-BR), pois tal “fenômeno” ocorre em tantos outros lugares no Brasil e no mundo que, com certeza, guardam suas belezas e peculiaridades econômicas e sociais.

Ao andar pela orla incrementada deste município encontrei um vendedor ambulante parado, protegendo-se dos raios do sol, vendendo água, refrigerante e cerveja. Logo pedi uma água pra refrescar-me do calor de aproximadamente 38º e perguntei como andavam as vendas. Com um olhar preocupado ele disse:


Tem menos gente que no ano passado e tô vendendomenos também. Tá pegando! Essa crise pegou o pessoal que tem grana e que vem pra cá. Como eles não tão gastando eu num tô ganhando. Tomara que ela passe logo, porque daí melhora pra todo mundo daqui, né?”.

Sendo assim, é interessante pensar que os impactos da crise não podem ser generalizados para todos os lugares como querem alguns setores da mídia, mas podem ser relacionados com diversas situações. Ao observar a reação do Garrafeiro (último post de nosso BLOG), que se encontra praticamente no mesmo patamar financeiro que o ambulante, as suas convicções e idéias quanto à crise parecem ser distintas. Isso pode ser reflexo de vários aspectos, dentre eles os lugares e as situações que vivem, a atuação de seus governos locais, sua relação com a família, entre outras coisas.

Bem, parece então que, o que é possível generalizar nessas conversas, seria a não generalização dos efeitos da crise que pode nos mostrar várias facetas da sociedade em que vivemos e a reação das pessoas que a compõem como, no caso do Garrafeiro e do Vendedor Ambulante. Mas, fica a pergunta para o leitor que nos acompanha: o que seria possível generalizar em ambos os casos? o que teriam em comum? em que medida há responsabilidade do Estado (Executivo, Legislátivo e Juduciário) para ambos os casos? outras perguntas...

Boa reflexão para os comentários!