quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Mais uma morte "antes da hora"!

Antes de publicar os textos aqui no BLOG sempre os trocamos entre amigos (as). Neste post, em especial, resolvemos publicar uma troca de e-mails que tivemos antes de postá-lo no BLOG, pois trata-se de um assunto que vem impactando diretamente no cotidiano de todas (os) os habitantes de nosso planeta.
Vamos aos bastidores da publicação do texto:

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2009/10/8
De:Henrique
Para: Fabio
Assunto: Qual a pergunta certa?

Grande amigo, tudo bem? agora a pouco soube que um amigo foi assassinado por 3 pessoas aqui
onde moro. Essas coisas nos causam uma revolta profunda, pois logo as conectamos com outros acontecimentos semelhantes e ficamos com uma sensação de impotência muito grande frente ao acontecimento. Estou ainda um pouco transtornado com a noticia e me veio a vontade de escrever algo no BLOG. Sei que tudo que eu escrever agora pode ser e, mas mesmo assim o fiz. Antes de publicar gostaria de saber o que você acha.
Obrigado,
Henrique

Qual a pergunta certa?
Uma pergunta para começar nossa conversa: você conhece alguém que nunca tenha sido vítima de algum tipo de violência causada pela ineficiência do Estado? Um assalto? uma sentença judicial injusta? um atendimento equivocado do SUS? enfim, passaríamos por horas aqui enumerando todos os transtorno causados pela ineficiência que geram tantas mazelas.

Entretanto, uma tem chamado atenção em especial: a violência física causada
pela ineficiência das políticas de segurança pública. Os dados são alarmantes e o cotidiano os confirmam, ou seja, basta perguntar para as pessoas: você conhece alguém que nunca foi assaltado ou vítima de uma violência semelhante? Êpa, que estranho, a pergunta não deveria ser: você conhece alguém que já foi assaltado?

Editor
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From: Fabio
Date: 2009/10/9
Subject: Re: Qual a pergunta certa?
To: Henrique

Poxa, eu sinto muito por este seu amigo. Muito mesmo. Ultimamente, cada notícia que eu vejo sobre gente morrendo "antes da hora" (na hora certa: "morrer de velho") tem me chocado e entristecido. Dizem que o tempo costuma nos calejar para as desgraças da vida, mas minha impressão é que estou ficando cada vez mais sensível às mazelas da sociedade. Ando inconformado com tudo.
Concordo com sua indignação sobre o que deveria ser regra (nunca ter sofrido violência) ter virado exceção.
De fato, a segurança pública no Brasil --em alguns estados mais do que em outros-- ainda está muito distante das boas práticas internacionais.
Mas mesmo a melhor polícia do mundo não consegue proteger seus cidadãos 100% do tempo em 100% dos lugares. Enquanto houver criminosos, o crime acontecerá onde não houver polícia naquele determinado momento (não consegui encontrar agora, mas há estudos com mapeamento territorial de crime que mostram que o policiamento em uma área empurra a criminalidade para as áreas menos policiadas, tudo mais constante).
A polícia age tentando controlar os efeitos, as conseqüências, mas tem pouco a fazer com relação às causas. Estas são frutos de outras violências, cometidas pelo Estado (garantia de direitos fundamentais e condições mínimas de vida, intermediação justa e pacífica de conflitos interpessoais etc.), pela família (violência contra a criança, incapacidade de transmitir bons valores e expectativas de condutas morais etc.) ou por seus semelhantes (violência que gera violência em retorno). O ciclo se realimenta.
Claro, há exceções: o policiamento comunitário é uma estratégia que pode atuar, sim, preventivamente, identificando com bastante antecedência sinais de desordem social que podem escalar para alguma atividade com maior potencial ofensivo e, neste caso, agir antes que o pior aconteça. E há estudos bastantes mostrando como as pequenas desordens sociais levam a desvios de conduta mais graves.
Mas nunca haverá um policial em cada residência, para evitar todos os episódios de violência doméstica, ou uma em cada bar, para evitar as brigas que escalam para assassinato. E ousaria dizer que isso nem é de interesse da população, que sentiria acuada e com sua liberdade tolhida pela polícia.
Temos, então, que refletir sobre se queremos apenas colocar tudo na conta da política de segurança pública, exigindo que mais gente vá para a cadeia (já superlotada), e fazendo com que as pessoas tenham deixem de cometer crimes por medo de ir presas, ou se queremos "fechar a fábrica de crimimisos" e inverter a lógica da violência, de maneira que as pessoas não cometam crimes por princípio, mesmo que ninguém esteja olhando. A polícia pode cumprir um valor educativo nessa transição, mas muitas das responsabilidades devem recair às outras instituições do Estado e, não nos esqueçamos, da própria sociedade (40% ou mais da economia brasileira é ilegal ou informal -- se fôssemos seguir a letra da lei para todos, o País hoje entraria em convulsão social).
Mas tudo isso acima são reflexões mais gerais. No caso deste seu amigo, a polícia pode ter falhado, sim. Não tenho informações suficientes para julgar. Mas tenho certeza de que muitas outras instituições do Estado também falharam nesse episódio.
Mais uma vida roubada, arrancada. Mais uma morte "antes da hora". Triste, muito triste.
{}s,
Fabio

Um comentário:

Unknown disse...

Amigo Henrique,
Não sei se estou mais insensível quanto a questões ligadas a violência, pois como ex-policial temo ser injusto em algumas avaliações a esse respeito. Porém, penso que a indignação ora presente é resultante de um conjunto de valores que trazemos da primeira instituição a que fazemos parte: nossa família. Vejo que se hoje as faímilas nucleares ou não transmitissem bons valores aos seus entes e que também participassem mais ativamente das atividades de seus filhos (escola, trabalho e lazer)possivelmente identificariam algum tipo de desvio de comportamento que estivesse saindo de sua forma mais latente.
A visão que tenho é que não só o Estado, mas a sociedade capitalista em que vivemos tem levados os esteios familiares ao trabalho por necessidade e forçando-os a deixar seus filhos aos cuidados de terceiros, os quais muitas das vezes não estão compromretidos com o futuro desses jovens.
O refelexo de todo esse processo é o que percebemos hoje: a violência.
Mas como inquerier a viloência externa se não somos capazes de frea-la dentro de nossas próprias casas, onde agredimos nossas esposas e filhos, não necessariamente fica, mas mental e moralmente? Que a segurança é um direito de todos e dever do Estado dever não deve ser objeto de desculpa para nossa pouca participação nas decisões políticas de nosso país e na cobrança de resposnsabilidades. O problema é que não sabemos usar o nossa maior arma defendida em uma nação democrática: o nosso voto.
Penso que ainda vamos e podemos sofrer novas violências enquanto não soubermos agir de forma organizada política e socialmente, levando aos poderes competentes, também,não apenas queixas, mas nossas idéias e propostas de mundanças.

Abraços,

Oswaldo Junior